sexta-feira, 21 de abril de 2017

As 48 Leis do Poder: uma introdução (ou como não ser sempre vítima da maldade alheia)

Eu diria, sem medo de crítica, que o livro de Robert Greene, "As 48 Leis do Poder", é "O Príncipe" (de Maquiavel) dos nossos tempos (talvez mais, talvez até algo próximo à "Arte da Guerra", mas em linguagem compreensiva). Já no início do Prefácio, Greene (2000, p. 20) nos adverte que, neste mundo em que todos devem "parecer justos e decentes", na luta pelo poder, temos que agir necessariamente com sutileza, ser "agradáveis porém astutos, democráticos mas não totalmente honestos".

Isto tem um pouco a ver com o que Maquiavel já havia escrito em "O Princípe", cuja citação também está presente no livro de R. Greene (2000, p. 25), ao final do Prefácio:
O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons. Por conseguinte, o princípe que desejar manter a sua autoridade deve aprender a não ser bom, e usar esse conhecimento, ou abster-se de usá-lo, segundo a necessidade.
Qual é a relação? Neste século (XXI), é mal visto quem parece "premeditado nos seus movimentos", com "muita fome de poder". Mas, ao mesmo tempo, se for bom o tempo todo, como afirma Maquiavel, estará fadado ao fracasso. Portanto, agir para ter e manter o poder, mas ser suficientemente sutil, agradável, mas astuto, democrático, mas não absolutamente honesto. Trata-se, como diz Greene (2000, p. 19), de um "jogo constante de duplicidade" que não é diferente do que aconteceu em épocas mais antigas. Assim, com base nas lições da história, o livro extrai "As 48 Leis do Poder", vitais para a sobrevivência num mundo cada vez mais hostil e ardiloso, que exige de nós, porém, a bondade e honestidade sem limites.


Devemos parecer dóceis, mas estar sempre prontos a agir da forma adequada ao momento. Como dizia Maquiavel, aprender a ser bom, ou não, conforme a ocasião. Greene vai dizer que vivemos os mesmos dilemas dos antigos artesãos:
aparentando ser o próprio modelo de elegância, ele tinha ao mesmo tempo de ser o mais esperto e frustar os movimentos dos seus adversários da maneira mais sutil possível (Greene, ob. cit., p. 19).
Se você é como eu, que quando enraivecido, deixa tudo transparente, responde na hora o que lhe desagrada, embora sincero e sem más intenções, precisa aprender com "As 48 Leis do Poder", precisa remodelar seu comportamento se quer mais sucesso na sua vida pessoal, familiar e profissional.

O bom cortesão, se apunhalava o adversário pelas costas, "era com luva de pelica na mão e, no rosto, o mais gentil dos sorrisos" (ob. cit., p. 19). Precisamos aprender a lidar de forma vitoriosa com esta "guerra civilizada". Neste sentido, Greene é explícito:
Hoje enfrentamos um paradoxo peculiarmente semelhante ao do cortesão: tudo deve parecer civilizado, decente, democrático e justo. Mas se obedecemos com muita rigidez a essas regras, se as tomamos de uma forma por demais literal, somos esmagados pelos que estão ao nosso redor e que não são assim tão tolos (0b. cit., p. 19).
Terá que dominar essa dualidade (contraditória), de não aparentar ser necessariamente quem é, mas também não ser quem aparenta ser (lembra das duas faces de Janus?). Por fora, um personagem; por dentro, outra pessoa. Por fora, "uma pessoa de escrúpulos"; por dentro, "a não ser que seja um tolo, vai aprender logo a fazer o que Napoleão aconselhava: calçar a sua mão de ferro com uma luva de veludo" (ob. cit., p. 20). Portanto, quem dominar As 48 Leis do Poder, será capaz de "seduzir, encantar, enganar e sutilmente passar a perna nos seus adversários".

Da minha parte, eu sempre tentei ser o mais honesto possível, sem reservas, porém, sempre acabei prejudicado, num sentido ou noutro. Porque, como afirma Greene (2000, p. 20), quem procurar ser absolutamente honesto vai sempre magoar e ofender muita gente e, algumas vezes, essas pessoas vão querer se vingar. Na verdade, até mesmo a honestidade é "uma forma sutil de coagir as pessoas" (mas talvez sem resultados tão satisfatórios).
Aqueles que fazem alarde ou dão demonstrações de inocência são os menos inocentes de todos (Greene, 2000, p. 21).
Consciente ou inconscientemente, tudo é sempre um jogo do poder. Pelo menos em vida (para aqueles que acreditam em algo após a morte), estamos presos a este mundo de artimanhas e não há como escaparmos do "jogo do poder", sendo vítimas ou predadores. Consequentemente, "se o jogo de poder é inevitável, melhor ser um artista do que negar ou agir desastradamente" (ob. cit., p. 21).

Para não sairmos sempre derrotados, magoados, cheios de culpa, temos que aprender a jogar, mudar de perspectiva. Mas não é uma tarefa fácil, pois exige "esforço e anos de prática". De qualquer modo e antes de mais nada, devemos aprender "a mais importante, e fundamento crucial do poder", ou seja, a habilidade de dominar as nossas emoções. É que a raiva não só deixa evidente aos olhos do adversário a sua condição e reação, mas também "é a que mais turva sua visão (ob. cit., p. 21).

Então teremos que reprimir todo sentimento de amor e afeto? Não. De forma alguma. Talvez nem seja possível reprimir os sentimentos, pois fazem parte do que nós somos. É humano ter sentimentos. O problema não está nos sentimentos, o problema está no modo como nos expressamos, o prolema está na forma como demonstramos o que sentimos.

Não dá para impedir o sentimento de raiva ou amor, "mas cuidado com a maneira como você expressa esses sentimentos e, o que é mais importante, eles não devem jamais influenciar seus planos e estratégias" (ob. cit., p. 22).

Como Janus, o personagem da mitologia romana, o guardião dos portões, com duas faces, capaz de sempre olhar para um lado e para o outro, "é esse o rosto que você deve criar para si próprio - um que olha sempre para o futuro e o outro, para o passado" (ob. cit., p. 22).

Mas, cuidado, adverte Greene (2000, p. 22), olhar para o passado não quer dizer remoer seus próprios sentimentos e rancores. Olhar para o passado é aprender com a história, é conhecer e não cometer os mesmos erros de outros que viveram antes de nós.
O verdadeiro propósito do olho que espia para trás é o de constantemente se educar - você olha para o passado para aprender com quem viveu antes de você (ob. cit., p. 22).
E é isto que As 48 Leis do Poder ensinam: pelo exemplo da história e a reflexão sobre os nossos próprios atos, aprender a romper com os modelos sentimentais e comportamentais que nos levam a perder no inevitável jogo do poder.

Aprender a controlar seus sentimentos, esta é a imprescindível condição necessária, antes mesmo de qualquer uma de As 48 Leis do Poder. Mas para isto, precisa aprender a ser menos você, a distanciar de si mesmo e a vestir as várias personas que o teatro do mundo exige:
Você não consegue trapacear bem se não se distanciar um pouco de si próprio - se não puder ser muitas pessoas diferentes, vestindo a máscara que o dia e o momento exigem (ob. cit., p. 23).
Mas também deverá ser paciente. A paciência é uma arte e somente o seu domínio "impedirá que você cometa burrices", pois ser impaciente só lhe deixará mais fraco e lhe impedirá de ter algum poder (ob. cit., p. 23).
Metade do seu controle do poder vem do que você não faz, do que você não se permite ser arrastado a fazer. Para isso, você deve aprender a julgar todas as coisas pelo seu preço que terá que pagar por elas. Como Nietzsche escreveu, "O valor de uma coisa às vezes não está no que se consegue com ela, mas no que se paga por ela - o que ela nos custa" (ob. cit., p. 23).
Aprenda a ter paciência, a aguardar o tempo certo. Mas não desperdice-o, pois a vida é curta. O tempo e a paz de espírito são coisas valiosas demais para serem desperdiçadas. Deixe os outros cuidarem dos seus próprios problemas. Do contrário, "o preço é muito alto" (ob. cit., p. 24).

Entrentato, se devemos de algum modo despender o nosso tempo é estudando os outros, "é o maior conhecimento de que se precisa para conquistar o poder". De qualquer forma, não faça diferença entre quem deve estudar e quem deve confiar. Todos, sem exceção, devem ser estudados: "jamais confie totalmente em alguém e estude todos, inclusive amigos e pessoas queridas" (ob. cit. e lug. cit.).

Lembrando, por fim, "disfarce a sua astúcia". O mundo espera decência, honestidade e cortesia, mas os que triunfam no jogo do poder são dissimuladores consumados (cf. ob. cit., p. 24).

Como diz Greene, tome As 48 Leis do Poder como um "manual das artes da dissimulação", baseada em histórias de homens e mulheres que souberam dominar o jogo do poder.
As leis possuem uma pressmia simples: Certas ações quase sempre aumentam o poder de alguém (o cumprimento da lei), enquanto outras o diminuem e até os arruínam (o desrespeito à lei) (ob. cit., p. 24). 

***

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Ref:

GREENE, Robert. As 48 leis do poder. Trad. de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. 458 p.

MAQUIAVEL. O Príncipe. 7 ed. Trad. de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 1998.


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